No dia 17 de abril, é comemorado o Dia do Lojista de CD, uma profissão quase extinta nos dias atuais. Porém, se voltarmos 20 anos no passado, a realidade era outra. CDs na livraria, CDs na Loja Bom Preço, na Play Video, nos mercadinhos, na Lanhouse do Geraldo Soster e em quase todo o estabelecimento comercial da cidade, pois no período pré-internet havia duas maneiras de ouvir música: sintonizando uma emissora de rádio ou ouvindo através de disco de vinil, fita K7 ou CD. É bom sinalizar isso, pois os mais jovens não vivenciaram o mundo sem Spotify.
O CD estava na crista da onda, quem ouvia fita estava no passado, mas ouvir CD não era barato (não mesmo). Um CD original custava facilmente 40 ou 50 reais, isso falando em um período em que o salário mínimo era de 200 a 300 reais. Como o brasileiro nasce com o dom de improvisar, isso foi uma questão de tempo para ser solucionado: gravar CDs em casa com músicas do seu computador. Aí entra outro problema, pois, no início do século XXI, o computador era um equipamento presente em cerca de 2% das residências do município, e o acesso à internet era ainda mais restrito. Aí que entra Luciano Barrozo e sua astúcia em gravar CDs.
Lá por 2001, Luciano pedia para seu vizinho Paulo Pires, da I9net, gravar seus primeiros CDs para ouvir em casa. Logo em seguida, o irmão mais velho de Luciano, Edinelson Barrozo, entrou no Curso de ADM na Unisep, e como todo bom acadêmico dos anos 2000, ele adquiriu um computador de mesa. Após meses de insistência do irmão caçula, foi comprado o compartimento para gravar CDs no computador. Nesse momento, começava uma trajetória de sucesso.
Com o computador que gravava CD e muita popularidade na escola, Luciano começou a fazer CDs personalizados, conforme pedido do cliente.
'Eles chegavam com uma listinha de músicas e eu gravava o CD. Cada CD que eu gravava, eu escrevia “DJ LPB” e o número do CD que estava gravando.'
Um fato que intensificou as vendas foi a relação com muitos filhos de agricultores, onde dificilmente vinham para o centro de São Jorge, então não tinham a possibilidade de escolher CDs. Frequentando a escola, diariamente encontravam com Luciano, e os pedidos saíam com mais facilidade.
Os CDs virgens eram comprados na antiga Central Info, do Ismael Henz, ou na Livraria São Jorge. Na época, custavam 50 centavos a unidade, e o CD personalizado era vendido a 5 reais. Um bom lucro, tratando-se da frequência com que vendia e o índice de inadimplência próximo de 0.
'Apenas uma pessoa ficou me devendo os CDs, meu amigo de infância, e somos amigos até hoje. Não vou falar o nome, mas suas iniciais são ‘CL’.'
Mas outro fato melhorou as coisas, pois, no ano de 2004, Luciano estava na oitava série do Anchieta, e a tradição era uma excursão para Foz do Iguaçu e Paraguai. Uma verdadeira aventura, que os alunos aguardavam o ano todo, economizavam o que conseguiam para trazer itens importados. Nesta ocasião, nosso pirata economizou e focou em CDs virgens. Trouxe 100, que custaram em torno de 10 centavos cada.
'Ali foi meu auge, vendi muito CD e ganhei muito dinheiro.'
Suas influências de Rock N’Roll aumentavam na procura, pois o cenário musical era outro. Guns N' Roses, Nirvana, Charlie Brown Jr., Raimundos, CPM22, Blink-182, Pitty, entre outros artistas, ditavam as músicas do momento. Porém, a música que mais gravou foi 'Festa no Apê', do famigerado e controverso Latino. Claro, todas as versões da música em outros idiomas também foram gravadas.
O império do CD pirata durou até o fim de 2008, quando Luciano concluiu o Ensino Médio, e combinou com o início de outros dispositivos como MP3, MP4 e a popularização da internet. Contudo, foram mais de 400 CDs gravados de maneira única e personalizada, que em algum momento fizeram a felicidade de adolescentes em poder ouvir suas músicas favoritas no momento desejado."
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